Entressafra de versos
Será uma ausência de gostar
De querer ou amar
Ou é somente solidão?
Como pão para quem tem fome
Ou água para o sedento
Como isso acontece, porque some
E agora me vem como um lamento?
Será uma entressafra dos versos meus
Esse abandono da inspiração
Valha-me Deus
Que isso seja apenas um descuido da minha emoção.
Nessa luta incessante e que me coça a mão
Que não me falte o apetite nem o paladar
E que eu passe noite e dia a sonhar
E que em todas as manhãs eu possa lhe escrever a mais bela canção.
Paulo Fernandessábado, 28 de junho de 2008
Tá na hora
Tulipas
MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,
não distribuirei entorpecentes ou carta de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
a vida presente.
Espera
Espera
Voei,
amei,
conquistei um céu
E nestes ares,
exalo uns amores
Vou e volto nas latitudes
da minha espinha dorsal
Se não vou a todos lugares,
nem ouço teus rumores
À tua espera, mudo;
No banco da praça, com meu jornal,
eu espero que o mundo se resolva, sobretudo
nos braços da juventude
Paulo Fernandes
POMETO ERÓTICO
Manuel Bandeira
Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa...flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes''
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Augusto dos Anjos
Vandalismo
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
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