Um Lugar de Poesia
Porque a poesia se faz necessária
Entressafra de versos
Será uma ausência de gostar
De querer ou amar
Ou é somente solidão?
Como pão para quem tem fome
Ou água para o sedento
Como isso acontece, porque some
E agora me vem como um lamento?
Será uma entressafra dos versos meus
Esse abandono da inspiração
Valha-me Deus
Que isso seja apenas um descuido da minha emoção.
Nessa luta incessante e que me coça a mão
Que não me falte o apetite nem o paladar
E que eu passe noite e dia a sonhar
E que em todas as manhãs eu possa lhe escrever a mais bela canção.
Paulo Fernandessexta-feira, 29 de agosto de 2008
sábado, 28 de junho de 2008
sexta-feira, 6 de junho de 2008
sábado, 5 de janeiro de 2008
Soneto à Lua Pálida
Pálida lua matutina
Estonteada ainda vaga
Divorciada da noite, se põe em ansiedade vespertina.
A espiar as manhãs nascendo nas plagas
Lá pelas bandas do sertão
O gado pasta
Pelos espaços ermos da amplidão
Onde a relva saúda o orvalho e tudo ao belo se arrasta
As flores já desabrocham, jogando no ar um mistério de odores.
E lá em cima, taciturna.
Tu, lua pálida, sem amores.
Em seus meneios
E cansada da farra noturna
Te esvais em devaneios
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Primavera
Florbela Espanca
É Primavera agora, meu Amor !
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor !
Ah ! Deixa-te vagar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha !
Não há bem que não possa ser melhor !
Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...
Parecem um rosal"! Vem desprendê-los !
Meu Amor, meu Amor, é Primavera ! ...
Canteiros
Cecília Meireles
Quando penso em você fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento
Pode ser até amanhã, cedo claro feito dia
mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Para correr entre os canteiros e esconder minha tristeza
Que eu ainda sou bem moço para tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.
Ausência
Carlos Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Tá na hora
Tulipas
MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,
não distribuirei entorpecentes ou carta de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
a vida presente.
Espera
Espera
Voei,
amei,
conquistei um céu
E nestes ares,
exalo uns amores
Vou e volto nas latitudes
da minha espinha dorsal
Se não vou a todos lugares,
nem ouço teus rumores
À tua espera, mudo;
No banco da praça, com meu jornal,
eu espero que o mundo se resolva, sobretudo
nos braços da juventude
Paulo Fernandes
POMETO ERÓTICO
Manuel Bandeira
Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa...flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes''
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Augusto dos Anjos
Vandalismo
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!